quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Exclusivo para apreciação de Campo Grande

Michel Teló, aquele mesmo da "Ai se eu te pego", está com duas músicas novas na praça. Uma para o mercado nacional, outra para o exterior. Seu produto de exportação chama-se "Bará Berê", já o produto interno chama-se "Parapapá". Fosse ele um cantor iniciante, eu daria 80% de desconto por fazer uso de fórmulas prontas em busca do sucesso, mas não é o caso deste cidadão. Ele tem em seu currículo mais de dez anos como cantor do grupo Tradição, apesar de nunca dizer isso em entrevistas. E qual seria o motivo deste silêncio? É o que tentaremos contar aqui. Senta que lá vem a história.


Tudo começou em 2008, quando o grupo Tradição estava finalizando seu DVD Micareta Sertaneja 2. O anterior tinha rendido um disco de ouro e uma apresentação no Domingão do Faustão. Tinha tudo para não só repetir a dose como ainda apresentá-los para o resto do Brasil, já que seu sucesso ainda era regional. Ocorre que quando tudo já estava pronto, inclusive a arte final do DVD, Michel e seu seu irmão Teófilo Teló, disseram que as oito músicas que estavam registradas na editora Panttanal, que era deles, só seriam liberadas mediante ao pagamento de uma pequena fortuna por cada uma. Valores absurdos, completamente acima do valor do mercado.

Naturalmente a banda declinou da proposta, alegando que se fosse o caso, excluiriam as tais oito músicas e seguiriam em frente. Então os dois rebateram: se fosse feito assim, os direitos de uso das imagens do cantor não seriam liberados. O que se seguiu foi uma discussão que, segundo fontes seguras, chegou às vias de fato. Em seguida foi convocada uma entrevista coletiva em que Michel Teló anunciou sua carreira solo, tranquilizando os fãs de que compriria a agenda de shows já vendidos, permanecendo na banda por seis meses.

Durante meio ano a banda se apresentou por toda a região Sul e Centro-oeste, disfarçando nos palcos o clima horrível que imperava nos bastidores. Chegou agosto de 2009, Michel desligou-se da banda, levou debaixo do braço toda a estrutura de palco e ainda estreou solo usando nos cartazes de divulgação a expressão Micareta Sertaneja. Deixou pra trás uma banda falida e despedaçada. Todos os outros membros saíram, como exceção do guitarrista Wagner Pekois, que insistiu em tentar o que na época era considerado por todos uma louca utopia, recomeçar do zero.

E foi o que ele fez. Inicialmente viajou com o empresário da banda Wagner Hildebrand ao Rio Grande do Sul e em Ijuí recrutou os irmãos Guilherme e Leonardo Bertoldo, cantor e baterista do grupo Os 4 Gaudérios, respectivamente. Da banda sul matogrossense Zíngaro contratou o sanfoneiro Jefferson Villalva, o baixista Leandro Azevedo e o percussionista Marcio Pereira. Formação nova, gravaram o disco "Caixinha de Surpresas" e caíram na estrada por dois anos até adquirirem a sinergia e a verba necessárias para a gravação de um novo DVD. A idéia era tentar algo novo e gravar ao vivo na praia de Camboriú. Foi aí que os irmãos Teló apareceram de novo na vida do Tradição.

Ao saberem que Michel Teló se apresentaria na região mais ou menos na mesma época, Teófilo Teló telefonou para todo mundo da produção do DVD, desde o diretor até o roadie, tentando comprar a idéia, naturalmente oferecendo uma fortuna, posto que além da família Teló ser riquíssima, ainda possuíam uns trocados restantes da extorção praticada em cima do Tradição. Como todos já sabiam do antigo golpe, recusaram a proposta e o resultado foi o DVD "Tô de Férias", um dos melhores lançamentos sertanejos de 2011, apesar da baixa repercussão que teve na mídia.

Só que a lei do karma ruim é implacável, a música "Ai se eu te pego" pode estar tocando no planeta inteiro, mas o "sucesso" de Michel Teló é uma bolha, uma mera ilusão porque ele não tem fãs. Ao contrário da maioria dos cantores que saem de suas bandas e se lançam em carreira solo, os fãs do Tradição não migraram para o lado do cantor, muito pelo contrário, permaneceram ainda mais fiéis à banda, sendo praticamente uma extenção do departamento de divulgação. Enquanto a preocupação de Michel é ganhar mais e mais dinheiro, o Tradição segue apostando na construção de uma carreira artística de qualidade.

O dia em que algum empresário visionário resolver investir no Tradição, o Brasil irá conhecer um dos melhores shows da atualidade. Se no momento Michel Teló é um dos artistas mais saturados do país, certamente o Tradição é o segredo mais bem guardado. Quem vai entrar na história como o mocinho e quem vai entrar como o bandido, só o futuro dirá. Mas não é muito difícil de advinhar.

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